quarta-feira, 25 de maio de 2011

A dança-rasga-saco com os hífens que ainda a restam da mistura que faz - Sambarroxé por Jorge Alencar

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AMANHÃ, 26 DE MAIO, ÚLTIMA APRESENTAÇÃO DO SOLO EU DANÇO SAMBARROXÉ, ÀS 20 HORAS, NO TEATRO DO CENTRO DRAGÃO DO MAR, PELO PROJETO QUINTA COM DANÇA
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Ainda na fase experimental da pesquisa, apresentei a performance "Sambarroxé - um experimento bruto" em junho de 2009 no II Encontro Interação e Conectividade, promovido pelo Grupo Dimenti (Salvador/BA), na capital baiana.
Na ocasião, o pesquisador e coreógrafo Jorge Alencar, deste grupo, escreveu um texto bem humorado, e não menos contundente, sobre o trabalho, o que considerei uma espécie de texto dramatúrgico sobre a obra, além de deixar forte a relação dança e política no corpo que dança o sambarroxé.
Segue abaixo o texto na íntegra:

A dança-rasga-saco com os hífens
que ainda a restam da mistura que faz

Mexido 1: no escuro da sala, como dentro dum saco preto de lixo, um rádio tosco toca numa inconstância esquizofrênica sons de samba, arrocha, axé. Quem é quem se até com hino nacional dá para mexer os quartos? Saco sonoro entupido de quadril. De um quadril urbano e popular com pinta de AM. Quadril que nem precisa de palco solene. Quadril de rua sem camarote. Quadril com livre acesso. Quadril de todos nós e qualquer um.

Mexido 2: ele mexe engraçado num rebolado sacana de quem quer comer todos os pratos da mesa de uma só vez. Arrocha, axé, samba. Tá tudo alí, mas nada está lá exatamente. Saco de lixo preto fashion apropriado: um shortinho sem condições, uma camiseta fim de festa, uma chuteira com as cores da nação. Para embolar o meio de campo.

Mexido 3: do vestígio. A voz sai dizendo o que deve ou deveria ser feito. A voz é o corpo mesmo que saído do radinho podre. Mídia deslocada, gasta e pertinente. O radinho é saco preto de lixo sonoro que toma corpo pelo estímulo-comando que, nessa altura, é memória-vestígio dos outros já mexidos.

Mexido 4: Lá está o corpo, fetichizado plenamente em saco preto de lixo. Tudo lá: confete, axé, moeda, samba, quadril, arrocha...rasga saco de festinha onde se disputa a tapa algum mimo. Mas qual escolher? É pegar o que der, o máximo que der e mexer. Sambarroxé - mexidão politicamente confuso e carnavalizado.

Jorge Alencar

Foto: João Meirelles_BA

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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Curso estimula o olhar crítico e estético para obras coreográficas produzidas no Nordeste brasileiro

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FORTALEZA, Assessoria CCBBNB, 04.05.2011

O artista, pesquisador e crítico de dança Joubert Arrais ministrará o curso “Coreografias nordestinas – obras e contextos”, no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108), no período de 10 a 13 deste mês (de terça a sexta-feira da próxima semana), de 14 horas às 17 horas.

Gratuitas, as inscrições estão abertas até o dia 10, na recepção do CCBNB-Fortaleza (de terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e no domingo, de 10h às 18h). Ao todo, são 80 vagas disponíveis.

O objetivo do curso é estimular o olhar crítico e estético para obras coreográficas produzidas no contexto do Nordeste brasileiro. No decorrer do curso, Joubert Arrais compartilhará com o grupo de alunos a sua pesquisa intitulada “Coreografias nordestinas – algumas escritas estéticas e críticas sobre a contemporaneidade de uma produção artística de dança no Nordeste”, desenvolvida em 2008 e 2009, com o apoio da Fundação Nacional das Artes – Funarte/MinC.

FOTOMONTAGEM: PAULO AMOREIRA / DIMENTI / BRENO CÉSAR / FRAME VIDEO
Metodologia

Segundo Joubert Arrais, o curso será ministrado em dois momentos diários: “apreciação de obras” e “estudo crítico”. No primeiro momento, serão utilizados recursos como projeção de vídeos para a apreciação das obras. No segundo, terá início o estudo crítico com uma breve conversa sobre a obra em questão, para perceber as primeiras impressões, enfatizando aquilo que foi visto e o que comunicou (o produto artístico).

Na sequência, haverá uma conversa sobre como a obra foi desenvolvida e o que outras possibilidades emergem da obra (o processo de criação), com informações mais detalhadas. Ao final de cada um dos quatro dias do curso, todos os participantes, na medida do possível, serão convidados a fazer leitura pública do texto ou comentário escrito, inclusive o ministrante, com textos seus e de outros críticos/jornalistas sobre as obras em apreciação, que foram publicados na imprensa e na internet.

Conteúdo do curso

Cada dança contemporânea tem uma singularidade pelo que discute como questão e pelo modo como se relaciona com o tempo presente. Uma obra artística é, pois, um fato. Uma vez produzida, apresentada, tornada pública, é algo irrevogável, cuja factualidade demarca um tempo. É, portanto, um acontecimento. Nesse movimento, a dança como coreografia está conectada a uma história não apenas de nomes próprios, nem de mera sequência de passos, tampouco trajetória linear e fixa. Trata-se de uma história dinâmica de confrontos e continuidades, segundo uma visão sistêmica do que se faz, do que se pensa, o que se pode e do que se deseja com dança.

São essas as questões que atravessam o curso de apreciação de arte “Coreografias nordestinas – obras e contextos”. O curso está alicerçado numa investigação sobre dança contemporânea na região do Nordeste brasileiro, realizada com apoio da Funarte/MinC, e atualmente em caráter independente, inscrevendo-se como produção crítica em dança. Para tanto, estrutura-se em torno da mesma questão: qual a contemporaneidade de uma dança contemporânea num contexto tido comumente como regional?

Durante o curso, serão analisadas quatro obras coreográficas: “Os tempos”, da Cia. de Arte Andanças (Fortaleza – CE, 2008); “Corpo-massa: pele e ossos”, da Cia. Etc. (Recife – PE, 2007); “O poste, a mulher e o bambu”, do Grupo Dimenti (Salvador – BA, 2006); e “Bull dancing – urro de omi boi”, de Evelin/Demolition Inc. (Teresina – PI, Amsterdan/Holanda, 2006).

As quatro obras são configurações de dança onde há cumplicidade dos processos de criação com as possibilidades de existência artística, através de políticas de apoio e outros modos de organização cênica e artística. São sintomáticos.

“Os tempos” fala dos afetos que emergem das possibilidades de encontro e do estar juntos. “Corpo-massa: pele e ossos” questiona o estatuto estético do corpo humano na busca por outros modos de se organizar politicamente. “O poste, a mulher e o bambu” faz do riso irônico a estratégia cênica para desestabilizar identidades midiáticas. “Bull dancing – urro de omi boi” discute a violência e o estrangeiro a partir da Dança do Boi.

Breve currículo

Joubert Arrais é artista pesquisador e crítico de dança. Mestre em Dança (PPGDanca/UFBA) e bacharel em Comunicação Social/Jornalismo (UFC), com formação artística pelo Centro Em Movimento – c.e.m. (Lisboa/Portugal). Escreve na imprensa cearense desde 2003 (O POVO e Diário do Nordeste). Foi bolsista de Produção Crítica em Dança 2008/2009 (FUNARTE/MinC). Em 2008, participou do II Workshop para Jovens Críticos (Transdisciplinary European Arts Magazines - TEAM Network & Alkantara Festival/Portugal). Atualmente coordena o comitê temático Produção de Discurso Crítico sobre Dança, da Associação Nacional de Pesquisadores em Dança - ANDA (Gestão 2011/2012).
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