domingo, 1 de junho de 2008

Homo Ficcionalis: Somos cobaias de que(m)?


O primeiro dia de discussões do encontro, na última sexta-feira, foi sobre a performance Banquete, de Patrícia Portela (Portugal), sobre a qual discorro provocativamente.

Numa apresentação especial, tida como "ensaio aberto" ou "pré-estréia", Banquete é uma performance que se define como um projeto artístico transdisciplinar que trata da problemática da experimentação com seres humanos para pesquisas científicas. Partindo disso, tem-se o real e o não-real organizam-se, performática (ação cênica) e performativamente (fazer-dizer), como um ritual gastronômico de ficção científica. De onde surgem algumas inquietações: quais os limites de um experimento com seres humanos? Que clareza deve ter tais limites quando se tem em perspectiva as relações bioéticas? O que pode ou não ser admitido, o que pode ou não ser feito? Somos cobaias ou somos cúmplices desse ritual? O que comer, o que não comer e por que comer?

Experimento remete à idéia de cobaia, "rato de laboratório". O estranhamento causado a cada prato servido, a cada nova situação gastronômica. Pois, o que parece alimento é, na verdade, um procedimento de testes. Pessoas sujeitadas as mesmas condições acabam por desenvolver padrões de comportamento comuns e diferenciados. Ambos são importantes quando tudo pode ser um dado revelador. Não se trata de punição, como em alguns momentos ocorreu, quando o numero de alguém foi anotado (ao entrarmos, éramos numerados), como também uma simples tosse já é tida como motivo para separação ou possibilidade de contaminação coletiva. Trata-se sim de dados a serem verificados, percebidos, via ação de observação e intervenção. Por conta disso, a dramaturgia configura-se como um ambiente ficcional onde memória, ancestralidade e clonagem dialogam, todo o tempo, oscilando entre o irônico, o cômico e trágico.

A saber: a performance foi apresentada no salão nobre do Palácio Nacional da Ajuda. Conhecido também como Paço de Nossa Senhora da Ajuda, esse palácio é um monumento nacional português, situado na freguesia da Ajuda, em Lisboa. O antigo Palácio Real é hoje, em grande parte, um magnífico museu, estando instalados no restante edifício a Biblioteca Nacional da Ajuda, o Ministério da Cultura e o Instituto Português de Museus.

(Foto: Giannina Urmeneca Ottiker)

Um comentário:

  1. Um jovem crítico que dança, que conta histórias e que conhece o mundo... lindo sua presença além mar, no começo oficialmente histórico da nossa brasilidade... mas vou ter coragem de pedir aqui, em público, que você ofereça mais por essa janela que voluntariamente nos abriu para ver através de seu olhar único e privilegiado esta experiência rica... quero saber como seus olhos bailam por terras lusitanas... quero saber da cultura que se move, o ritmo das pessoas e a estética cotidiana.. beijos saudosos de jeito gaiato de quem come rapadura e acarajé...

    ResponderExcluir

Exercícios (auto)críticos...