sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Revisitando textos: Como dançar juntos? ...


O ano de 2009 é histórico. E a culminância da sua importância aconteceu no seu último mês. Dezembro foi quando o projeto da graduação em dança na Universidade Federal do Ceará foi aprovado, tanto bacharelado como licenciatura. O que me fez revisitar um texto que escrevi para o Caderno 3 do Diário do Nordeste, cujo título é Como Dançar Juntos?, isso em fevereiro de 2007.

Lá, digo, nesse texto, senti uma ansiedade minha ao falar sobre a graduação, no contexto do Nordeste, quando naquele ano já haviam outras capitais com graduação em dança, além do pioneirismo de Salvador. A capital cearense inicia agora seu processo que se desenvolverá em 2010, a primeira década do novo século.

Por conta disso, segue abaixo dois trechos do texto acima citado, onde detectei pertinências para o nosso momento atual no Ceará. O que também tem a ver com o "revisitar textos" que começarei a fazer aqui nas minhas insistências críticas:


1. Daí chego ao ponto decisivo para a dança no Ceará hoje, que é a ausência de uma graduação que dialogue com a realidade da Capital e do Interior do Estado. Houve a tentativa (privada) da Universidade Gama Filho, mas pouco se sabe porque não vingou. Maceió já tem uma licenciatura e é pública (UFAL), recém-criada e a segunda do Nordeste. A primeira foi Salvador (UFBA), pioneira no Brasil, com 50 anos completos em 2006, atualmente com projeto pedagógico reformulado. Aqui do lado, Natal está no caminho, pela UFRN.

Enquanto isso, nossas pesquisas acadêmicas, não muitas, são formuladas em ambientes não-específicos como educação, ciências sociais, filosofia e comunicação (área historicamente mais porosa). Podem contribuir, sim, para a autonomia da dança como área de conhecimento, mas se for rumo à ações desatreladas do esporte e do teatro. E, essencialmente, sinalizam para uma demanda social existente, diretamente ligada à qualificação do discurso sobre dança – ensino, criação e crítica. Fortaleza pode começar nos trilhos certos. E ai, o que (nos) falta?


2. A carência de informação de dança é fato, principalmente porque depende de um acesso e de uma distribuição não tratados como prioridade nas políticas públicas vigentes no nosso país. Mas não é um top-down que vai resolver, nem uma única forma de pensar a dança. Noutra via, é na diversidade de saberes e no conhecimento local que podemos encontrar as “respostas” que, certamente, nos conectará com o global.

Para tanto, explica a professora e crítica de dança Helena Katz, há dois pontos cruciais que precisam ser acordados em qualquer conversa sobre dança. Independente do entendimento escolhido, lembrar de “nunca reduzir a dança ao efeito que ela produz em nós; nem ignorar que toda escolha – incluindo a de não tratar a dança com a propriedade que qualquer objeto de estudo pede – tem consequências políticas, lógicas, éticas e estéticas”.

Enfim, como descobrir por que a rede não acontece, por que não há emergência em refletir coletivamente sobre os entraves na cena e na experiência cearense, vindos sobretudo da ignorância de certas partes que desafirmam – ou simplesmente não aceitam – a intelectualidade da dança. Para se ter boas e suficientes condições de existência, devemos insistir, sim, nesse caminho. Juntos.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Corporalidades ...


Primeiro, ouvir sem áudio e perceber!
Em seguida, fazer uma pausa pequena para deixar as idéias se organizarem.
Depois, ouvir com áudio e perceber!
Outra pequena pausa.
...
E então?



sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bailarina epilética vai induzir ataque no palco:
arte ou excentricidade?



O Arts Council pagou a uma bailarina epiléptica 13.889 mil libras - cerca de 15 mil euros, cerca de 40 mil reais - para que ela suspendesse a sua medicação e tivesse um ataque em cena. O espectáculo tem em vista o estudo dos “interfaces físicos entre a dança, o movimento e a epilepsia”


Segundo o diário britânico “The Times”, a actuação de 24 horas de Rita Marcalo, que implica que a bailarina fique sem dormir durante esse tempo, tem em vista o estudo dos “interfaces físicos entre a dança, o movimento e a epilepsia”.

As organizações de apoio à epilepsia disseram que o acontecimento torna uma condição de saúde mal-entendida num espectáculo excêntrico e alertou para os potenciais perigos de parar com a medicação para o tratamento da epilepsia.

Marcalo referiu que queria aumentar a consciencialização da epilepsia como uma “doença invisível” e que usará a actuação do próximo mês, apenas para adultos, no teatro The Bradford Playhouse, em Inglaterra, para explorar a sua “outra identidade como pessoa doente”.

A bailarina, directora artística da companhia de dança Instant Dissidence, com sede na cidade inglesa de Leeds, é epiléptica desde os 17 anos. Marcalo deixou de tomar os seus medicamentos na semana passada e por 24 horas, a partir da uma da manhã do dia 11 de Dezembro, os espectadores poderão ver as suas tentativas de ter um ataque em palco.

Assim, haverá o recurso, no espectáculo, a luzes estroboscópicas, programas informáticos específicos, a bailarina terá de fazer jejum, privar-se de dormir, tomar estimulantes da actividade cerebral, como o álcool e o tabaco, e será elevada, artificialmente, a sua temperatura corporal.

As actuações de outros artistas, em termos de dança e de instalações, entreterão os espectadores enquanto esperam que Marcalo tenha um ataque epiléptico.

O Playhouse diz, “num determinado momento da actuação, Marcalo poderá sofrer um ataque epiléptico. Quando este ocorrer, soará um alarme, as luzes aumentarão de intensidade, a música parará e uma série de câmaras gravará o ataque. Os espectadores serão encorajados a gravar essas imagens nos seus telemóveis”.

O Arts Council England justificou a sua decisão de pagar a Marcalo para a realização deste espectáculo afirmando que ela é uma “artista importante cujo trabalho merece ser visto”. Um porta-voz disse que esta organização, dedicada às artes, tinha tido um conselho médico e que o “apoio médico apropriado” estava disponível.

Sallie Baxendale, neuropsicóloga na National Society for Epilepsy, disse que “o ponto positivo é que as pessoas vão falar mais da epilepsia, mas o negativo é que esta doença irá ser apresentada num espectáculo excêntrico em vez de ensinar as pessoas sobre as convulsões epilépticas.

“O perigo de parar de tomar a medicação é equivalente, por vezes, àquele quando se está num nível em que não se controlam as convulsões. Joga-se com a medicação para próprio perigo da pessoa”.

Fonte: www.publico.clix.pt (20/11/2009)