domingo, 31 de janeiro de 2010

Is she a (Dancer) Femme Fatale?





She Is a Femme Fatale - Exposição Museu Bernardo - Lisboa/Portugal


Louise Bourgeois, Paula Rego, Cindy Sherman, Helena Almeida, Nan Goldin, Hannah Villiger, Francesca Woodman, Aino Kannisto, Rosângela Rennó, Margarida Correia, Shirin Neshat, Pilar Albarracín, Guerrilla Girls, Vera Mantero, Susanne Themlitz, entre outros

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Eu Mouraria lá!

Mouraria, um dos chamados “bairros velhos” de Lisboa. Um dos que sobreviveram ao histórico terremoto de 01 de novembro de 1755, ironicamente, o dia de Todos os Santos, que corresponde ao dia de Finados no Brasil, mas um dia depois (02 de novembro).

Por lá, vi e vivi muitas janelas de vidros, varandas com jarros de flores. Azulejos que ladrilham paredes marcadas pelo tempo. Nos dias que fiquei, ficamos, por lá, tentei exercitar o recordar e o reconhecer. As trilhas da vida como becos, escadas e escadinhas. Passagens secretas que escondem segredos coletivos. Sinos que (re)tocam a infância pulsante de uma criança que permanece em mim e nos outros. Chuva que ensopa as camadas de pele e altera os ditos estados corporais.

Ou seja, subir que é descer, descer que é subir, parar que é prosseguir, guiar que é ser guiado, chorar que é sorrir, observar que é deixar-se observar, caminhar que é passear, entrar que é sair, sair que é entrar, olhar que é a abrir brechas e fendas. Seguimos uma rota pré-definida. Isso é, de algum modo, entregar-se a uma errância sem fim.(Traduzo-me: fazer a mesma rota todos os dias foi, é, permear o espaço-tempo, o aparente igual que se revela de muitos e diferentes modos.)

O incrível é perceber como determinadas sensações permanecem como memória corporal viva. Viva!!!! Como o vivido é tão ficcional quanto o não vivido ainda. Viva!!! Saudades daquilo que não vivi ou que já vivi. Viva!!! Ou ainda aquilo que já vivi não a partir de mim, mas a partir do outro. Viva!!!! O outro que é gente, que é coisa, que é sino...Vivo?!

Confesso. Alguns dias foram bons, outros não tanto. Faz parte. Penso que sim. Mas sem o determinismo dualista que impera. Refiro-me que os dias bons foram de fruição e pertencimento. Os dias ruins foram de insistência e tolerância com o confronto-encontro (ou seria encontro-confronto?).

Enfim, o bom é saber que, por onde passamos, habitamos lugares e os lugares passam a nos habitar. Assim como as pessoas dos lugares que habitamos e estas passam a nos habitar. Diante de tudo isso, com bons e maus momentos, eu digo: EU MOURARIA LÁ!

PS: “Digo para ver!” (Sophia de Mello Breyner Andresen). Verso completo logo abaixo.

LISBOA

Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver

Sophia de Mello Breyner Andresen